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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Visibilidade da Sabedoria Divina

Inumeráveis são, tanto no céu quanto na terra, as evidências que lhe atestam a mirífica sabedoria. Não apenas aquelas coisas mais recônditas, a cuja penetrante observação se destinam a astronomia, a medicina e toda a ciência natural, senão também aquelas que saltam à vista a qualquer um, ainda o mais inculto e ignorante,
de sorte que nem mesmo podem abrir os olhos e já se vêem forçados a ser-lhes testemunhas.

De fato, quantos nessas artes liberais à farta se abeberaram, ou mesmo apenas de leve as experimentaram, ajudados por sua contribuição, são levados muito mais longe na penetração dos segredos da divina sabedoria. Todavia, ninguém, ao ignorá-
las, é impedido de ver nas obras de Deus bastante – e mais do que bastante! – de arte donde se possa arrojar-se à admiração do Artífice.
Sem dúvida que para investigar os movimentos dos astros, determinar-lhes as posições, medir as distâncias, notar as propriedades, requer-se arte e a mais rigorosa aplicação. Como, ao serem essas coisas perscrutadas, mais explicitamente se projeta
a providência divina, assim, para contemplar-lhe a glória, impõe-se à alma que se eleve um tanto mais alto. Quando, porém, nem mesmo a pessoa mais simples e as de cultura mais elementar, que foram ensinadas só pelo recurso dos olhos, não podem ignorar a excelência da divina arte a revelar-se profusamente nesta incontável e, além do mais, particularmente distinta e harmoniosa variedade da milícia celestial, salta à vista que não existe ninguém a quem o Senhor não manifeste sobejamente sua sabedoria.
De igual modo, perscrutar na estrutura do corpo humano, com essa perspicácia que Galeno aplica, a correlação, a simetria, a beleza, o funcionamento, é tarefa de exímia habilidade. E todavia, confessam-no todos, o corpo humano revela composição tão engenhosa que, à sua vista, com razão, quão admirável se julgará ser o Artífice.

João Calvino